terça-feira, novembro 24, 2009

é bonito de se ler

A Água

Meus senhores eu sou a água

que lava a cara, que lava os olhos

que lava a rata e os entrefolhos

que lava a nabiça e os agriões

que lava a piça e os colhões

que lava as damas e o que está vago

pois lava as mamas e por onde cago.


Meus senhores aqui está a água

que rega a salsa e o rabanete

que lava a língua a quem faz minete

que lava o chibo mesmo da rasca

tira o cheiro a bacalhau da lasca

que bebe o homem que bebe o cão

que lava a cona e o berbigão


Meus senhores aqui está a água

que lava os olhos e os grelinhos

que lava a cona e os paninhos

que lava o sangue das grandes lutas

que lava sérias e lava putas

apaga o lume e o borralho

e que lava as guelras ao caralho


Meus senhores aqui está a água

que rega as rosas e os manjericos

que lava o bidé, lava penicos

tira mau cheiro das algibeiras

dá de beber às fressureiras

lava a tromba a qualquer fantoche e

lava a boca depois de um broche.


Manuel Maria Barbosa du Bocage

5 comentários:

Unknown disse...

Bonito de se ler. Sem dúvida!

Corruptor disse...

Sim, que bela reflexão.

cagatoiros disse...

De génio, sem duvida.

Arluth Dhu disse...

Sem dúvida que Bocage vai ao cerne da questão, um dos melhores momentos da poesia Portuguesa..

ranhoso disse...

Pura e simplesmente fantástico.

Desconhecia, o que faz de mim um ignorante feliz por ter tido o previlegio e a surpresa de ler. Um momento cultural sem precedentes.