quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Linguagem e medo global por Eduardo Galeano

Na era vitoriana, as calças não podiam ser mencionadas na presença de uma senhorita.Hoje, não fica bem dizer certas coisas na presença da opinião pública. O capitalismo ostenta o nome artístico de economia de mercado, o imperialismo chama-se globalização. As vítimas do imperialismo chamam-se países em vias de desenvolvimento, o que é como chamar de crianças aos anões. O oportunismo chama-se pragmatismo, a traição chama-se realismo. Os pobres chamam-se carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos. A expulsão das crianças pobres do sistema educativo é conhecida sob o nome de deserção escolar. O direito do patrão a despedir o operário sem indemnização nem explicação chama-se flexibilização do mercado laboral. A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria. Ao invés de ditadura militar, diz-se processo. Quadro de Fernando Botero. As torturas chamam-se pressões ilegais, ou também pressões físicas e psicológicas. Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões e sim cleptómanos. O saqueio dos fundos públicos pelos políticos corruptos responde pelo nome de enriquecimento ilícito. Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos automóveis.
Para dizer cegos, diz-se não visuais, um negro é um homem de cor. Onde se diz longa e penosa enfermidade deve-se ler cancro ou SIDA. Doença repentina significa enfarte, nunca se diz morte e sim desaparecimento físico. Tão pouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares. Os mortos em batalha são baixas, e as de civis que a acompanham são danos colaterais. Em 1995, aquando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: "Não me agrada essa palavra bomba, não são bombas. São artefactos que explodem". Chamam-se "Conviver" alguns dos bandos que assassinam pessoas na Colômbia, à sombra da protecção militar. Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade a maior prisão da ditadura uruguaia. Chama-se Paz e Justiça o grupo paramilitar que, em 1997, metralhou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, no momento em que rezavam numa igreja da aldeia de Acteal, em Chiapas. O medo global. Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quem não tem medo da fome, tem medo da comida. Os automobilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados. A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas. É o tempo do medo. Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo.

7 comentários:

Caldusfuriusus disse...

Olha, está armada... O que tu foste fazer... Vou ser obrigado a ripostar. Vens para aqui com a treta da esquerda, ainda por cima vindo desse falador de espanhol sul americano!!! Que ousadia forbiddenmoods... Treelover, Moontalker, grasslicker!!!!!

Corruptor disse...

Nao conhecia este "falador" e independentemente de ser esquerdista ou facho (não me interessa, pois essa não é a minha guerra) diz algumas verdades. Parece-me que isto é tipo uma análise que o homem faz aos tempos modernos em que não se chama os bois pelos nomes, e não uma critica aos factos descritos. Mas como não conheço o gajo, nem os seus objectivos politicos, não estou em condições de julgar o significado de tais declarações.

Anónimo disse...

Pouco me dizem esses termos como ser de esquerda ou de direita, lá porque uns se sentaram á esquerda e outros á direita, da mesma forma que não subordino a minha maneira de pensar a uma ideologia, à coisas em que sou liberal outras conservador. Se decidi colocar este texto foi porque me pareceu um belo exemplo da politica demagógica usada na actualidade, o que é um facto, se sou ousado por isso, ainda não viste nada.

Caldusfuriusus disse...

ai é que te enganas! Eu ja vi que baste. E ao suportares este escritor, estas a subordinar a tua maneira de pensar a uma ideologia, nomeadamente a uma ideologia esquerdista...

P.S nao sei se ja reparaste, mas direita e esquerda tem um pouco mais que ver com lugares em parlamentos...
Parece que te estas a esquecer com quem tas a falar...

Anónimo disse...

Hei! Era só para dizer que sou um treelover.

Caldusfuriusus disse...

Isso do treelover era uma piada para o forbiddenmoods. Nao sei se ele se lembra de aqui ha uns anos em Munique??

Anónimo disse...

Então não me havia de lembrar...e também não vou discutir política contigo, pelo menos desta forma.